Suicídio no Alentejo relacionado com a solidão em idosos com menos fé
O sociólogo Manuel Villaverde Cabral justificou este sábado a elevada taxa de suicídios no Baixo Alentejo com o facto de se verificarem muitos casos de solidão em pessoas idosas, que não possuem fé cristã.
Em declarações à agência Lusa, o director do Instituto do Envelhecimento, que esteve num colóquio sexta feira à noite em Odemira, relacionou o elevado número de suicídios, sobretudo nos homens viúvos, com a solidão, depois da morte dos cônjuges.
Villaverde Cabral classificou o sexo masculino como "pouco inteligente" e "completamente dependente das mulheres". No caso dos homens alentejanos, como "pessoas simples e que esperam que a vida seja simples e natural", a expectativa é de que "as mulheres morram depois deles".
Por isso, o sociólogo não considera que o suicídio nos idosos seja uma "tragédia" mas sim um sinal de que já não existe "um objectivo", relacionando a alta incidência no Baixo Alentejo com o carácter menos católico da população.
Quando a vida contraria esta expectativa, Villaverde Cabral acredita que as pessoas são "livres de sair pelo próprio pé", não considerando que seja "uma tragédia" o suicídio de "uma pessoa que não tem um objetivo".
Segundo o sociólogo, é um fenómeno que "não acontece nas famílias gregárias, mais impregnadas de catolicismo", onde as pessoas "acreditam na vida e na natureza", o que, "de uma forma geral", não se verifica no Baixo Alentejo.
Afirmando gostar "do lado estóico do Alentejo", Villaverde Cabral manifestou-se mais preocupado com as pessoas "que estão bem, que são a maioria". O sociólogo defendeu que essas pessoas devem ser valorizadas, "pedindo-lhes colaboração, respeitando-as e remunerando-as", nem que seja "simbolicamente".
Manuel Villaverde Cabral deslocou-se a Odemira, município alentejano ao qual tem uma forte ligação, por ter adquirido uma casa de segunda habitação na freguesia de Colos, para estrear o ciclo de conferências "Conversas à Mesa", promovido pela Fundação Odemira. Esta instituição tem a decorrer, desde 1 de Fevereiro deste ano, o projecto "A vida vale", que pretende incentivar a população da freguesia de Sabóia a valorizar mais a sua vida, ao mesmo tempo que tenta combater o isolamento e o suicídio.
Na sua intervenção, o sociólogo chamou a atenção para o facto de Portugal ser um dos países mais envelhecidos do mundo, tornando-se um problema "muito grave", sobretudo, pela questão dos recursos financeiros.
De acordo com o director do Instituto do Envelhecimento, unidade de investigação científica sobre este problema, o isolamento dos idosos está ligado à migração e emigração dos jovens, por questões económicas.
Para combater esta realidade, defendeu a importância das redes sociais, que não têm de passar pelas familiares, garantindo "que fazem um bem à saúde extraordinário".
Sublinhou também a importância de manter as pessoas "activas depois da reforma", sobretudo os homens, que processam uma "quebra quase completa" das suas redes sociais nesta fase.
Quanto ao problema específico de Odemira, onde, em 2001, o rácio entre jovens e idosos era de um para 200 (o dobro da média nacional), o sociólogo apresentou como causa a "falta de emprego", que poderia ser resolvida com a "reorganização da economia numa perspetiva de sazonalidade", com forte incidência no turismo.