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PE(N)MSAR ELOKIM - ANSELMO BORGES







Jesus e a revolução judeo-cristã




1 As sabedorias filosóficas antigas, orientais e da Grécia, elaboraram "espiritualidades" em ordem a uma vida boa, sem passar nem por Deus nem pela fé. Foi frente a essas sabedorias que o cristianismo, a partir da sua herança judaica, ergueu uma orientação nova, religiosa, de salvação, enraizada na fé num Deus pessoal, transcendente e criador. Essa nova representação foi "tão atraente e prometedora" que triunfou durante séculos sobretudo na Europa. Esta é a tese desenvolvida pelo filósofo não crente Luc Ferry, antigo ministro da Educação em França. O que é facto é que, "entre o século V e o século XVII, o Ocidente foi essencialmente cristão, cultural e filosoficamente cristão, de tal modo que a filosofia moderna, a partir do século XVII, mesmo quando foi crítica em relação às religiões, até resolutamente ateia, não deixou de ser marcada de modo decisivo por esta herança religiosa". O fundo de cultura judeo-cristã é omnipresente e por isso "é indispensável" que mesmo os não crentes se interessem e captem os traços fundamentais dessa cultura, para "se compreenderem a si mesmos e compreenderem o mundo dentro do qual vivemos", escreve Luc Ferry. A pergunta é: "Que havia de tão profundo, de tão sedutor, atraente e fascinante na mensagem de Jesus (e concretamente no que se refere à morte que injecta sempre a angústia no coração dos homens), para ter-se arrogado com tanta força o monopólio da definição legítima da salvação e da vida boa, em detrimento das espiritualidades filosóficas que formavam o essencial das sabedorias antigas?"
2 "O primeiro e mais importante ponto de ruptura" com as grandes cosmologias e sabedorias antigas "situa-se na personificação do divino". O cosmos, o Logos eram divinos, o divino era o cosmos, o Logos. Ora, logo no início do Evangelho segundo São João, lemos que "no princípio era o Logos, e o Logos fez-se carne". O Logos é uma pessoa. Deus encarnou em Jesus Cristo. O divino já não se confunde com o cosmos, o Universo anónimo, mas é uma pessoa. Já não estamos dentro de uma ordem impessoal e anónima, e isso "implica uma mudança radical na relação com Deus". Aliás, foi com o cristianismo que se deu a descoberta da pessoa e a afirmação de que todos os seres humanos são pessoas, o que não acontecia nem na Grécia nem em Roma.
Por outro lado, a nova atitude do homem perante o Deus pessoal só pode ser a da confiança, da fé (fides, donde vem fé e confiança). A entrega confiada a Cristo e a Deus é que é decisiva. Daqui provém uma nova relação entre fé e razão: crer para compreender, compreender para crer.
3 O nascimento da moral cristã constituiu uma ruptura radical com as éticas aristocráticas gregas. "Primeiro passo para a democracia moderna, para os direitos do homem e para a ideia de igualdade, a moral cristã faz literalmente voar em estilhaços os princípios fundamentais das grandes éticas aristocráticas gregas. Estamos perante uma revolução de uma amplidão abissal, verdadeiramente a única revolução moral realmente importante desde há dois mil anos: crentes ou não, vivemos ainda assentes em valores elaborados pelo cristianismo". Aliás, "não é por acaso que a democracia moderna foi instaurada num mundo culturalmente cristão e em mais lado nenhum".
Isto vê-se bem na parábola dos talentos. O terceiro servo, com um talento apenas, teve medo e enterrou-o. Ora, "o medo é o contrário da confiança, da fé" e, por isso, o senhor insulta-o. Contra a visão moral aristocrática, "a dignidade de um ser não depende dos talentos recebidos à nascença, mas do que se faz deles, não da natureza e dos dons naturais, mas da liberdade e da vontade, sejam quais forem os dons à partida". Há desigualdade por natureza, mas "é o trabalho que valoriza o homem, não a natureza". Isto é uma revolução, pois "introduz a ideia moderna de igualdade entendida no sentido da igual dignidade dos seres, independentemente dos talentos naturais". Como teorizará Kant, não é a força, a inteligência, a beleza, etc. que são fonte de moralidade, pois pode-se usar esses dons na direcção do bem ou do mal; por isso, é a liberdade, a vontade boa, que constitui a moralidade; a virtude depende do dever-ser e não das disposições naturais.
4 Jesus revela Deus como amor incondicional, que, portanto, não abandona os seus nem sequer na morte. Deus é um Deus de vivos e não de mortos. Contra a eternidade impessoal proposta pelas filosofias do cosmos, o cristianismo promete que "nunca morreremos verdadeiramente, que nunca estaremos sós, que seremos sempre amados, e que reencontraremos após a morte os seres que nos são queridos". Sem Deus pessoal e salvador, na morte só resta a dissolução no Todo impessoal e anónimo. "Na medida em que se acredita, a promessa de Jesus é incomparável, infinitamente mais exaltante e mais sedutora do que a de ser um grão de pó cósmico, cego e anónimo, para a eternidade." É cada um que é pessoalmente convocado e que pessoalmente tem de decidir. "O que confere à promessa de imortalidade uma aura propriamente inigualável" é que está em conexão com "uma filosofia do amor de uma rara profundidade. É pelo amor que somos salvos da morte". Deus é amor e o amor é mais forte do que a morte.
5 Em A Gaia Ciência, Nietzsche pôs um louco a proclamar a morte de Deus: "Para onde foi Deus? Matámo-lo. Nós somos os seus assassinos." E este foi o maior feito da humanidade. Mas agora é o niilismo. E "que significa o niilismo?", pergunta Nietzsche, para responder: "Que os valores mais altos perdem o seu valor." Por isso, continua o louco: "Para onde nos leva a nossa corrida? Há ainda um em cima e um em baixo? Não andamos à deriva através de um nada infinito? Deus morreu. Como nos consolaremos?"
É preciso ser consequente: se tudo caminha para o nada e se afunda no nada, já tudo é nada. E o que é que verdadeiramente vale?


Fátima. Uma noite em saco-cama para dois adultos custa mil euros [NOTÍCIA DIÁRIO DE NOTÍCIAS]

 

Os poucos alojamentos que restam em Fátima[1] para a visita do papa Francisco, a 12 e 13 de maio, apresentam preços exorbitantes. Já houve quem reservasse uma noite em saco-cama por quase mil euros
http://triplov.com/espirito/frei_bento/2017/fatima_01.htm
Uma casa de hóspedes que funciona num edifício de cinco pisos, com 40 quartos e apartamentos, no centro da cidade, propunha, numa página de reservas na internet, uma noite para dois adultos em "quarto duplo económico" (aparentemente apenas para os dias da visita do papa), com estada em saco-cama, por 992 euros, já sem vagas disponíveis.
O mesmo empreendimento turístico anuncia, para a noite de 12 para 13 de maio e ainda com lugares disponíveis, um quarto para duas pessoas com casa de banho partilhada por 1.192 euros (com casa de banho privativa o mesmo quarto custa mais 300 euros por noite), e outras opções, de alojamento triplo até um apartamento para 10 pessoas, com preços que variam entre os 2.300 e os 6.000 euros.
Uma cama em dormitório de seis pessoas, com casa de banho partilhada, fica pelos 500 euros por noite, subindo para 600 euros com casa de banho privativa.
Mas se o visitante optar pelo fim de semana anterior à visita papal, os mesmos preços caem vertiginosamente: as camas em dormitórios variam entre os 40 e 60 euros, o apartamento de 10 hóspedes passa a custar 500 e o quarto duplo 120 euros.
Já outra unidade de apartamentos turísticos, que no quarto de 45 metros quadrados disponibiliza frigorífico e micro-ondas, pede 2.000 euros pela mesma noite para dois adultos, preço que no fim de semana anterior não ultrapassa 60 euros.
Apesar do reitor do Santuário, Carlos Cabecinhas, ter apelado, no início do mês, a que não haja especulação de preços na visita do papa Francisco, pelo menos duas modernas unidades hoteleiras propõem preços que chegam a ser 40 vezes superiores às tarifas praticadas fora do 13 de maio e, aparentemente, são as únicas que ainda possuem vagas na cidade.
Os dois hotéis de quatro estrelas anunciam quartos duplos por 2.150 e 2.500 euros, um deles também na sua própria página de internet, tendo registado em conjunto mais de três dezenas de reservas nos últimos dois dias.
A maioria das reservas para a peregrinação de maio é não reembolsável, o que quer dizer que, a mais de dois meses da visita papal, se for cancelada terá de ser paga na totalidade.
O aumento de preços faz-se sentir não só em Fátima mas também na região circundante, num raio de cerca de 60 quilómetros (km): em Leiria, a 30 km do santuário de Fátima, um quarto duplo num hotel de quatro estrelas é proposto por 1.200 euros na noite de 12 para 13 de maio. No fim de semana anterior, o mesmo quarto custa 60 euros.
Na mesma cidade, em dois 'hostel' do centro histórico, há quartos duplos disponíveis a preços que vão dos 500 euros e 600 euros (com casa de banho partilhada) até 650 euros com wc privativo (mas fora do quarto). Uma cama em dormitório misto ascende a 200 euros.
Uma semana antes, as mesmas acomodações variam entre os 35 a 39 euros diários, enquanto a cama não ultrapassa os 12 euros.
Já em Santarém, a 58 km de Fátima, os preços também aumentam, mas em menor proporção: dois hotéis pedem 350 euros por uma noite em quarto duplo, acomodação que uma semana antes não ultrapassa os 75 euros.
Responsáveis hoteleiros e de associações do setor consideram que os preços exorbitantes pedidos para a visita do papa em quatro unidades turísticas de Fátima são um fenómeno residual e absurdo, que não representa a hotelaria da cidade.
Em declarações à agência Lusa, Alexandre Marto Pereira, empresário de hotelaria e vice-presidente da Associação Empresarial Ourém-Fátima (ACISO) argumenta que a oferta de quartos duplos em dois hotéis de quatro estrelas da cidade, com preços que chegam aos 2.500 euros, e alojamentos locais com valores que atingem 6.000 euros, é "um tipo de oferta extremamente residual e marginal".












Quem era a serpente do paraíso? (1)











1. É claro que a fé não deriva da razão, à maneira da matemática ou da ciência, não sendo, portanto, demonstrável cientificamente. Mas também se deve tornar claro que a fé não pode agredir a razão, com a qual tem de dialogar, dando razões de si mesma. Há que distinguir entre saber e crer. Como dizia o médico e filósofo Pedro Laín Entralgo, o penúltimo é da ordem do saber, mas o último é da ordem da crença. Por isso, o crente não pode dizer que sabe que Deus existe e que há vida depois da morte, como o ateu não pode dizer que sabe que Deus não existe e que com a morte a pessoa acaba: o crente e o não crente não sabem, crêem, com razões. Neste contexto, Kant é inultrapassável, também quando escreveu que, apesar da sua majestade, a religião não está imune à crítica. Aliás, o Evangelho segundo São João inaugura-se dizendo: "No princípio, era o Logos", portanto, o Verbo, a Palavra, a Razão. E "foi pelo Logos que tudo foi criado", provindo daí, como sublinharam vários cientistas, que a criação, a natureza, é investigável, pois é racional. Uma religião que tem medo da razão, da investigação crítica, do confronto e diálogo com as ciências, não é humana nem presta verdadeiro culto a Deus, correndo o risco de um dogmatismo estéril e, no limite, ridículo. Como o não crente também não pode ser dogmático nem fundamentalista.
2. Uma das aberturas do Concílio Vaticano II consistiu num diálogo aberto com as diferentes ciências, sem medo da investigação, e na salvaguarda dos direitos humanos, como o da liberdade de expressão. Depois, nos pontificados de João Paulo II e Bento XVI, foi reduzida a liberdade de investigação teológica, contando-se por centenas os teólogos condenados, admoestados, proibidos de escrever e ensinar. A Teologia tornou-se, assim, afónica, remetida para um silêncio forçado, ou tolhida dentro de uma linguagem escolástica e repetitiva, passando ao lado dos grandes problemas do mundo, de tal modo que o famoso bispo Pedro Casaldáliga pôde denunciar em 1995: "Com muita frequência nós, os bispos, julgamos que temos a razão, normalmente pensamos que a temos sempre. Ora, o que acontece é que nem sempre temos a verdade, sobretudo a verdade teológica, de modo que vos peço, a vós, teólogos, que não nos deixeis numa espécie de ignorância dogmática."
Uma das novidades fundamentais do pontificado de Francisco é que a liberdade dos teólogos regressou como algo natural, sem censuras nem condenações. Isabel Gómez Acebo chamou a atenção para o facto: "Uma das mudanças que o Papa Francisco introduziu, e sem que ninguém se tenha dado conta, é que a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé não publicou nenhum documento para toda a Igreja nestes últimos anos, quando em épocas anteriores o fazia entre duas e quatro vezes por ano" - com uma excepção, anoto eu: aquele sobre a cremação e o sepultamento dos mortos. E é um facto que, embora o tenha mantido no cargo, não tem utilizado os serviços do seu Prefeito, cardeal Gerhard L. Müller, concretamente não o chamou para apresentar documentos oficiais, nomeadamente "A Alegria do Amor", referente às questões da sexualidade, do amor e da família.
Mais: de modo indirecto, Francisco tem tentado a recuperação e a reconciliação com teólogos condenados. É assim que se poderia explicar, só para dar exemplos, a aproximação a Leonardo Boff, que ainda recentemente confessou publicamente que, em caso de necessidade de alguma comunidade, continua a presidir à Eucaristia, a Hans Küng, a quem já escreveu duas vezes, a José M. Castillo... Mais significativo é que levantou, numa carta pessoal autografada, a sanção que o Vaticano, por intermédio do cardeal T. Bertone, tinha imposto ao biblista argentino Ariel Álvarez Valdés, proibindo-o de "ensinar, escrever, publicar, dar aulas e cursos, e falar através da rádio e da televisão".
3. O biblista célebre acaba de publicar uma obra com o título em epígrafe: Quién era la serpiente del Paraíso... y otras 19 preguntas sobre la Biblia. Dada a sua importância, servir-me-á de inspirador para as duas próximas crónicas. Importância, porquê? Vivemos em tempos de urgência do diálogo inter-religioso. Ora, uma das sua condições essenciais é a leitura histórico-crítica dos textos sagrados: não uma leitura literal, mas uma leitura que conhece as regras exegéticas e hermenêuticas: atenção ao contexto histórico, à língua, ao género literário, aos destinatários, à sua intencionalidade última... E Ariel Álvarez é um bom exemplo para os fundamentalistas cristãos e, consequentemente, para seguidores de outras religiões, nomeadamente no mundo islâmico. Seja como for, apesar de tudo, dentro do cristianismo, deram-se passos de gigante neste domínio.
4. Afinal, "quem era a serpente do Paraíso?" Houve as interpretações mais díspares: que era uma víbora autêntica, mas possuída pelo Diabo; uma imagem, símbolo de Satanás; "um símbolo geral dos maus desejos e dos prazeres sensuais[1]". De facto, nada disto está no texto, concretamente não há conotações sexuais[2] no pecado de Adão e Eva. Como não há maçã nenhuma: a confusão veio do facto de em latim maçã se dizer malum e mau se dizer malus e malum.
[1] http://linhagemsagrada9.blogspot.pt/2017/01/jesus-el-cristo-se-opone-las-practicas.html 
[2] https://ionline.sapo.pt/264632
A serpente é apenas o símbolo da religião cananeia, que via nela três qualidades: conceder a imortalidade, garantir a fecundidade, ser o protótipo da sabedoria. Um escritor anónimo escreveu, e isso aparece no livro do Génesis, sobre os perigos da religião cananeia: em vez do paraíso para todos, estava--se a viver no meio de injustiças, fome, dores, morte, e a causa da situação estava na religião cananeia, que levava o povo a refugiar-se numa religião de ritos exteriores e fetichistas, incluindo a prostituição sagrada, em vez de seguir a Lei do Deus vivo e "procurar a felicidade numa vida moral justa e honesta, ao serviço dos irmãos".










Quem era a serpente do Paraíso? (2)

 


1. "Porque é que Noé amaldiçoou o filho que o viu nu?" Uma cena estranha: Noé, que aparece na Bíblia a cultivar a vinha, "a mais preciosa e nobre de todas as plantas da Bíblia", adormeceu por causa de uma bebedeira e acaba por amaldiçoar o filho Cam, que entrou na tenda e o viu nu. O que se passou realmente? Neste caso, não se trata de homossexualidade.
Este relato tem sobretudo uma finalidade política, passando-se o mesmo com a narrativa das duas filhas de Lot, que, para não ficarem sem filhos, embebedaram o pai para terem relações com ele. Cam é o pai de Canaã e Noé não amaldiçoa Cam, mas o seu neto Canaã, porque será um filho gerado num incesto: o texto diz que Cam viu a nudez do pai, o que significa que dormiu com a esposa do pai, ou seja, com a sua própria mãe. Quem é maldito é Canaã. O texto amaldiçoa os cananeus escravizados e quer explicar as relações tensas entre Israel e os moabitas e os amonitas, também filhos de um incesto.
Havia três irmãos: Sem, Cam e Jafet. Um terminou escravo e os outros dois, livres. E "é a primeira vez que a Bíblia fala de escravidão, a instituição mais horrenda que o ser humano inventou, na qual alguém é um morto em vida, não pode decidir por si mesmo, nem fazer aquilo de que gosta, nem ir aonde quer, nem ter amigos nem ser feliz". A Bíblia falará muitas vezes do tornar-se escravo pelo pecado.
2. "Porque é que Deus ordenou a Abraão matar o seu filho Isaac?" Um dos relatos mais brutais e terríficos de toda a Bíblia e mesmo de toda a literatura mundial. Uma tradição judaica conta que Sara, esposa de Abraão, ao saber do facto, deu sete gritos e morreu. Mas, afinal, o que está no texto é uma mensagem revolucionária: Deus não tolera sacrifícios humanos. Por isso, apareceu um carneiro, para substituir Isaac.
3. "Como pôde Moisés contar a sua própria morte?" Os rios de tinta que este passo fez correr! No entanto, é simples: o Pentateuco (os primeiros cinco livros da Bíblia) não foi escrito por Moisés, mas por várias gerações de teólogos, historiadores, juristas, sacerdotes, liturgistas.
4. "Como foi a conquista da Terra Prometida?" Isso é narrado, em epopeia gloriosa, concretamente no livro de Josué, em que aparece a famosa paragem do Sol. Ora, embora nem tudo seja simples criação literária, as lembranças longínquas de alguns confrontos bélicos "estão articulados numa trama artificial e idealizada, como propaganda política".
5. "Deus castigou Salomão por causa das suas mulheres?" Diz a Bíblia que o rei Salomão amou muitas mulheres, o que não seria raro. O que impressiona é o número: chegou a ter 700 esposas e 300 concubinas, portanto, mil mulheres.
Mas não foi essa a razão do castigo de Deus. O que se passou é que a ostentação em obras majestosas, também de tipo religioso, como o Templo, o equipamento militar e marítimo e o luxo da corte levaram a tal dívida externa e, consequentemente, a tal exploração e opressão que as tribos do Norte lançaram um grito de rebelião, como se lê no Primeiro Livro dos Reis: "Que temos nós que ver com o Sul? Voltemos para as nossas casas. Eles que paguem as suas próprias dívidas." E a divisão do reino de Salomão consumou-se.
6. "Porque é que Deus atormentou Job com doenças?" "Em longos e irados discursos, Job arremete inclusivamente contra Deus. Nunca ninguém se tinha atrevido a insultar tanto a Deus." Mas não foi Deus que enviou as desgraças. Foi e é a vida, livre, finita e mortal. Frente à angústia e ao escândalo do sofrimento do inocente, o crente apenas espera resposta na ressurreição de Jesus. Há uma pergunta asfixiante que atravessa a fé do crente - aliás, a pergunta que dá nome ao último filme de Martin Scorsese Silêncio: Porque é que Deus se cala perante o horror do sofrimento? O crente, abalado no abismo desse silêncio, acredita que a última palavra sobre a história ainda não foi dita e pertence a Deus, o Deus da Vida e do Amor. A história lê-se do fim para o princípio e o fim ainda não chegou. O processo do mundo ainda não transitou em julgado. O crente crê confiadamente que a última palavra será dita por Deus, uma palavra de misericórdia e salvação. Então, já não haverá mais dor nem sofrimento, porque é a vida eterna, como diz esperançosamente o Apocalipse.
7. "O que diz a Bíblia sobre os extraterrestres?" Nada. Mas isso não significa que não possa haver outros seres inteligentes noutras paragens do universo.
8. "Jesus nasceu num 25 de Dezembro?" Trata-se apenas de uma data simbólica: substituiu a festividade pagã do nascimento do Sol Invicto, que o imperador Aureliano no dia 25 de Dezembro de 274 proclamou patrono principal do Império.











Quem era a serpente do Paraíso? (3)


Ainda na continuação do livro de Ariel Álvarez, com a pergunta acima e mais 19 sobre a Bíblia. 1. "Como é que Jesus fazia os seus milagres?" "Nenhum historiador sério duvida de que Jesus realizava obras prodigiosas." Fez coisas admiráveis a favor das pessoas, nas quais os seus seguidores viram o sinal de Deus. Mas não fez milagres no sentido estrito da palavra, isto é, suspendendo as leis da natureza. Crer neste tipo de milagres significa ou implica ateísmo, pois supõe-se que Deus está fora do mundo e, de vez em quando, vem dentro, a favor de uns e não de outros. Porque tudo é milagre - o milagre do ser e de se ser -, não há milagres.
Sobre os milagres, pense-se na observação, com lucidez cáustica, de Pascal, um dos maiores cristãos europeus de sempre. Quando um amigo chegou, com a roupa rota e cheio de feridas, contando o milagre que Deus acabava de fazer-lhe - "O cavalo resvalou por uma ravina, eu caí e, imagina, parei precisamente à beira do abismo" -, Pascal, pensativo, respondeu: "E a mim? Que milagre Deus me fez, porque nem sequer caí do cavalo!"
2. "Jesus Cristo era sacerdote?" "Os sacerdotes da Igreja Católica sustentam que o são como Jesus Cristo. Mas donde tiram a ideia de que ele era sacerdote? Nos Evangelhos isso nunca se diz. Os únicos sacerdotes que se menciona são os do Templo de Jerusalém." Embora com escândalo de muitos, deve dizer-se que Jesus era leigo e não reconhecido como sacerdote, pela simples razão de que não pertencia à tribo de Levi. E enfrentou os sacerdotes do Templo, onde oficiavam mais de oito mil. A Carta aos Hebreus diz que Jesus é sacerdote, mas de outra ordem, oferecendo--se a si mesmo a Deus para salvar a vida das pessoas. "Cada um é sacerdote da sua própria vida, da sua própria existência, que livremente deve oferecer a Deus, vivendo de acordo com a sua vontade", que já não tem que ver com a prática de ritos, mas com a transformação do mundo, na prática da justiça e do amor. Neste sentido, todos os baptizados são sacerdotes. "Depois, e para organizar melhor as tarefas na Igreja, alguns podem tornar-se ministros (presbíteros) e outros trabalhar mais directamente no mundo (leigos)."
3. "Eram doze os apóstolos de Jesus?" Não. De facto, os apóstolos são mais do que "os Doze": Paulo e Barnabé, Silvano e Timóteo e até uma mulher - Júnia - têm o título de apóstolos.
4. "Como foi a conversão de São Paulo?" Não pode ser tomada à letra toda aquela descrição da queda do cavalo, diálogo com Jesus, cegueira, que apenas quer significar a importância do acontecimento. Todas as grandes experiências são interiores. "Também Paulo, em certo momento da sua vida, experienciou um encontro íntimo e especial com Jesus, que o levou a abandonar tudo e a centrar a sua existência unicamente em Cristo ressuscitado." Foi uma iluminação interior tão intensa que, de perseguidor, Paulo se tornou apóstolo, fazendo mais de 20 mil quilómetros para anunciar o Evangelho.
5. "Morreu ou não morreu a Virgem Maria?" A pergunta levantou--se porque se em certos passos da Bíblia se diz que a morte entrou no mundo por causa do pecado, então Maria não deveria morrer, uma vez que não cometeu pecado. Chegou a afirmar-se, até não há muito tempo, que sem o pecado original não haveria morte.
É evidente que toda esta doutrina do pecado original precisa de ser revista, atendendo não só ao facto de no Génesis, como vimos, não constar esse pecado, mas sobretudo devido ao facto da evolução. Como é que os primeiros homens na sua imensa fragilidade - quem foram os primeiros? - poderiam ter tido um acto de liberdade tal que dele derivaram todos os males, incluindo a morte? De facto, com pecado ou sem pecado, a biologia manteve-se "inalterável".
6. "Quando se cumprirão as profecias do Apocalipse?" Quem nunca viu um filme referente ao Apocalipse? Quem nunca ouviu falar da besta, do dragão, da mulher do Apocalipse, do número 666? Quando se quer aludir a catástrofes, horrores, guerras, fim do mundo, lá vem o adjectivo tenebroso "apocalíptico". Depois, lá estão os números e os seus enigmas. Para a sua interpretação, ficam aí algumas indicações: 3 é um número perfeito e o número de Deus; assim, 3+4=7, sendo o 4 a indicação dos pontos cardeais, ou 3x4=12, para simbolizar a plenitude (os dias da criação ou a aliança de Deus com as 12 tribos); os 144 000 assinalados são o múltiplo de 3x4x12x1000 - 1000 é o símbolo da universalidade - e simbolizam o novo povo de Deus. Em sentido contrário, como explica o padre Carreira das Neves, a metade destes números só pode significar o não-tempo de Deus e a sua não--aliança, como é o caso de três e meio e de seis. Assim, 666 é o número da besta, um símbolo numérico do nome e título de Domiciano como imperador, perseguidor dos cristãos.
É decisivo compreender que o livro do Apocalipse tem o sentido exactamente contrário do vulgarizado. Escrito pelo ano 95, quando os cristãos atravessavam "dois problemas muito graves" - a ruptura com o judaísmo e a perseguição desencadeada pelo Império Romano -, quer animá-los, dando--lhes confiança, esperança: Deus e o seu Cristo triunfarão. Portanto, o livro do Apocalipse é tudo menos "apocalíptico" no sentido vulgar do termo.
7. É no calvário da existência que se percebe a força do Apocalipse. No romance de Shusaku Endo, Silêncio, sobre a perseguição brutal, arrasadora, dos cristãos japoneses no século XVII, quando Deus parece ausente num silêncio obstinado, o padre jesuíta Rodrigues duvida de Deus e chega a perguntar se não foi ao... Nada que andou a rezar. "E se, por absurdo, Deus não existisse? Hipótese aterradora": que drama absurdo seriam as existências de quem sofreu os horrores da vida, da morte, do martírio. Exige-se moralmente que Deus exista.
O Apocalipse, último livro da Bíblia, termina com um clamor: "Vem, Senhor Jesus!










Silêncio












Em 1549, São Francisco Xavier esteve no Japão e 60 anos depois já havia 300 mil católicos. Em 1614, começou uma perseguição brutal, para que renegassem a fé. Eram submetidos a dois suplícios: o da fossa e o da cruz. No primeiro, os condenados, envoltos em panos e amarrados fortemente por cordas e com um pequeno corte por detrás da orelha, donde saíam gotas de sangue, eram suspensos pelos pés, com a cabeça para baixo e para dentro de uma cloaca, podendo ficar assim dez dias até morrerem. A outra tortura: amarrados numa cruz erguida frente ao mar, ficavam abandonados às ondas, que iam e vinham esmagadoramente contra eles, no frio e na fome, dia e noite, até à morte.
Em 1966, o escritor católico Shusaku Endo, que foi proposto para Prémio Nobel da Literatura, escreveu um romance com o título Silêncio, agora em filme com o mesmo nome, de Martin Scorcese. Têm um fundo histórico. O padre jesuíta Cristóvão Ferreira apostatou, não resistindo à tortura da fossa, o que causou enorme comoção na Europa. Em plena perseguição, dois jovens jesuítas, Rodrigues e Garpe, oferecem-se para partir: move-os fundamentalmente saberem o que se passou na verdade com Ferreira, que tinha sido seu formador no seminário e que tanto admiravam.
O livro e o filme são obras cimeiras, de rara intensidade dramática e comoção, mas não admira que hoje não se perceba essa intensidade, porque, numa sociedade do bem-estar material e numa cultura do provisório e da pós-verdade, não há abertura para as decisivas questões metafísico-religiosas. Ficam aí quatro notas sobre o que penso serem os seus temas essenciais.
1. A primeira refere-se ao que lhes dá o título: silêncio. Note-se que se trata de Silêncio, sem artigo, simplesmente Silêncio. No meio daquele indescritível horror de sofrimento, Deus não diz nada, mantém-se num silêncio de chumbo e de breu, obstinadamente calado. A ponto de o padre Rodrigues ser tentado pela dúvida atroz, chegando a perguntar se não foi ao... nada que andou a rezar.
Perante a dor, a maldade bruta, uma natureza cega que arrasa num tsunami milhares de pessoas, não distinguindo culpados nem inocentes, o crente percebe que a fé é um combate e que se confronta, à maneira de Job, com um Deus incompreensível. "Incompreensível que Deus exista, incompreensível que não exista", escreveu Pascal. Se existe, porque é que há tanto mal? Mas, se não existe, então, em última análise, é para o nada que caminhamos e não há sentido último. E donde vem o bem?
2. Para Shusaku Endo, a personagem deve representar Judas. Chama-se Kichijiro e é quase omnipresente: quando parece ter desaparecido, ele está lá outra vez. Viu a família destruída pela perseguição e abjurou. Depois, quase atordoado, anda pela vida, atraiçoando aqui e ali, mas sempre a arrepender-se e a pedir perdão e a confessar-se; o padre tinha pisado o ícone cristão, mas ele ainda acredita que é padre e o pode absolver. Depois de reconhecer que Deus fez uns para heróis e outros para cobardes e ele é um destes, um cobarde, faz esta pergunta imensa: porque é que nasci neste tempo de perseguição? O padre também reconhece que aquele pobre diabo, se tivesse nascido em tempos normais, teria sido um cristão "conformado e feliz".
No livro e no filme, perguntamos a nós mesmos, bem lá no fundo, se não somos todos o Kichijiro. O que faríamos se estivéssemos lá? Porque, numa sociedade livre e no conforto, é fácil ser herói a partir de fora. Mas, quando se está dentro, quem está verdadeiramente preparado para ser realmente herói, isto é, digno em circunstâncias nas quais a alternativa é "abjurar" ou ser morto? Não apenas em relação à fé religiosa, mas em relação à defesa da dignidade humana pura e simplesmente? Quem nunca renegou?
3. Ele há a tortura física, ele há a tortura psicológica, mas a mais terrível é a tortura da consciência. É a ela que o padre Rodrigues é submetido. Apanhado, no meio de tanto horror, esmagado pelo cansaço, rasgado pela noite da dor, mas fiel à sua missão e à fé, tudo indica que estava disposto a dar a vida no martírio. Mas as autoridades japonesas não querem mártires, querem que os católicos e sobretudo os padres reneguem publicamente, calcando um ícone com as imagens de Cristo e da Virgem. Assim, numa chantagem estudada e num cinismo requintadamente depurado, começa o inquisidor, com a ajuda do ex-padre Ferreira, a torturar-lhe a consciência, dizendo-lhe que, se fosse um padre a sério, faria como Cristo, dando a vida pelos outros, e que não é nada, trata-se apenas de uma formalidade, pois até pode continuar no seu íntimo a professar a fé e, sobretudo, que, se calcar, aqueles cristãos que gritam de dor serão libertados.
É claro que, subjectivamente, se calcar, entendemo-lo e Deus também. E objectivamente? Ele acaba por ouvir uma "fala" de Cristo, o calcado, o pisado da História por causa dos outros e quebrando o silêncio: "Pisa-me." E ele, atenazado, ouvindo o grito dos que Cristo mandou amar, pisou, caindo em abraço terno ao Cristo calcado. Um mártir da consciência torturada a favor dos irmãos. A mulher japonesa, que lhe foi dada pelas autoridades, entendeu e, com ele já no féretro, deixou escorregar secretamente para dentro um pequeno crucifixo (este final é só do filme).
4. Eram tempos de miséria no Japão. A perseguição foi também causada pelo receio da classe dominante frente à dinâmica democratizante do Evangelho, respondeu-me uma vez no Japão um japonês. Receio acrescentado por a religião poder ser a porta aberta a imperialismos ocidentais.
Evidentemente, o cristianismo precisa de ser inculturado. Como acaba de dizer o padre Adolfo Nicolás, ex-superior-geral dos jesuítas: "Na Ásia, não há evangelização possível sem alianças com o budismo e o shintoísmo."











Para falar, ouvir o silêncio











Quando comparamos o ser humano e os outros animais, notamos que a linguagem é característica decisiva dos humanos. Já no século XVIII se deu essa compreensão, pois encontramos inclusivamente caricaturas com um missionário no meio da selva africana dizendo a um macaco: "Fala, e eu baptizo-te." Se falasse, era humano. Evidentemente, esta fala refere-se ao que é próprio do ser humano: dupla articulação da linguagem.
Pela palavra, abrimo-nos ao mundo e o mundo abre-se a nós. Falando, damos razão disto ou daquilo, argumentamos, comprometemo-nos, formamos comunidade. Sendo a razão humana linguisticizada, só podemos compreender-nos a nós próprios em corpo, com outros e na história.
O homem, pelo facto de ser "zôon lógon échon", animal que tem logos (razão e linguagem), é também "zôon politikón", animal social, político, diferentemente do animal, que é gregário, e a razão disso é a palavra, como bem viu Aristóteles, na Política: "A razão de o homem ser um ser social, mais do que qualquer abelha e qualquer outro animal gregário, é clara. Só o homem, entre os animais, possui a palavra." E continua: "A voz é uma indicação da dor e do prazer; por isso, têm-na também os outros animais. Pelo contrário, a palavra existe para manifestar o conveniente e o inconveniente, bem como o justo e o injusto. E isto é o próprio dos humanos face aos outros animais: possuir, de modo exclusivo, o sentido do bem e do mal, do justo e do injusto e das demais apreciações. A participação comunitária nestas funda a casa familiar e a cidade."
A linguagem humana não se reduz à expressão emotiva do prazer e do desprazer. É capaz de fazer juízos morais, de distinguir o bem e o mal, o justo e o injusto, partilhar e debater publicamente estas apreciações. Deste modo, a linguagem está na base da ética e funda eticamente a pólis (a cidade, no sentido da vida política).
Percebe-se assim que o ser humano é constitutivamente dialogante. Aliás, o que é, logo à partida, pensar senão falar consigo mesmo? Damos tantas vezes connosco a falar connosco - isso mesmo, a dialogar connosco no mais íntimo de nós, quando precisamos de deliberar e vamos apresentando razões a favor e razões contra uma determinada tomada de posição. Eu próprio, escrevendo o que aí fica, vou dialogando comigo.
Precisamos de falar connosco, mas, para isso, é necessário ouvir a Palavra primeira que fala no silêncio. Onde é que se acendem as nossas palavras senão nessa Palavra primeira? Ora, essa Palavra originária é o próprio Deus. Não diz a Bíblia que Deus tudo criou pela Palavra? Então, Deus fala através da criação e de todas as criaturas. Precisamos de ouvi-lo. Rezar é isso: ouvir Deus e falar com ele.
É preciso falar, dialogar em família. Quando o diálogo morre numa família, o amor vai esmorecendo e caminhando também para a morte. Mas hoje, desgraçadamente, parece que não há tempo para dialogar em família, porque o barulho das televisões toma conta de tudo. E os telemóveis e quejandos, meu Deus! Já se diz que a Última Ceia do século XXI representa Jesus com as mãos à cabeça, aflito, porque os Apóstolos estão todos entretidos a olhar e a "dedar" entusiasmados nos seus smartphones!...
Quem não ouve a Palavra que fala no Silêncio pode produzir tempestades de palavras, mas elas são ocas ou até perniciosas. Porque então a palavra já não existe para "manifestar o conveniente e o inconveniente, bem como o justo e o injusto". Ora, não é isso que frequentemente se passa nas campanhas eleitorais e nos Parlamentos? E também em muitas homilias de padres e bispos e discursos de todo o género? Como faz falta a palavra poética, criadora, revigoradora e que cura! Ah, sim, pela palavra animamos alguém, damos-lhe força, esperança, abrimos-lhe futuro. Com uma palavra podemos "matar" alguém, destruir-lhe a vida. Por exemplo, um professor que diz a um jovem: não fará nada na vida, nunca conseguirá fazer a minha "cadeira"...
Tudo fica abalado, quando os sofistas e a sofística tomam conta do espaço público e privado. Nunca mais se vai ao essencial. E tudo se agrava agora com a ameaça da banalização total das redes sociais. Para isso chama a atenção um comentário aceso e paradigmático de Umberto Eco, pouco antes de morrer: "As redes sociais concedem o direito de palavra a legiões de imbecis que antes falavam só no bar depois de um copo de vinho, sem danos para a colectividade. Eram imediatamente remetidos ao silêncio enquanto agora têm o mesmo direito de palavra de um prémio Nobel. Assistimos à invasão dos imbecis." Já Pascal, nos Pensamentos, se queixava: "... toda a desgraça dos homens provém de uma só coisa, que é não saber permanecer em repouso num quarto."
É preciso rezar com Sophia de Mello Breyner: "Deixai-me com as coisas/ Fundadas no silêncio."

O que alguns defendem no debate público sobre a eutanásia

Anselmo Borges »
PS: Perguntam-me sobre o que penso quanto à eutanásia. Já aqui me pronunciei suficientemente sobre esta questão tão dramática como complexa. Desenvolverei o tema no meu livro Desafios à Igreja e ao Mundo de Francisco no Século XXI, que será publicado no próximo mês de Abril. Para já, adianto dois pontos:
1. Não há legitimidade para votação nesta legislatura, pois os partidos não colocaram o tema e o que pensam sobre ele nos seus programas eleitorais.
2. Após sério, aprofundado, amplo, esclarecido e esclarecedor debate, sou favorável a que se proceda a um referendo. Não percebo porque é que se tem medo de referendar um tema tão grave e delicado como a eutanásia, cuja aprovação legal implicaria uma mudança de paradigma civilizacional. E há perguntas prévias, como: o que é que valem a Constituição da República Portuguesa e a deontologia médica?

UMA OUTRA OPINIÃO:
http://maislusitania.blogspot.pt/2017/02/o-que-defendemos-no-debate-sobre.html








Ataques a Francisco e a sua fé e coragem











1- Causa admiração o à-vontade com que Francisco está e fala[1]. Ainda há dias foi a uma paróquia de Roma e deixou que crianças fizessem selfies com ele e lhe colocassem perguntas, do género: "Paga-se para ser Papa?" Resposta: "Os cardeais juntam-se, falam uns com os outros, pensam... falam entre si sobre as necessidades da Igreja... Todos votam e o que tiver dois terços dos votos é eleito Papa", acrescentando que "é um processo com muita oração" e que os "candidatos" ao lugar "não têm de pagar, não há amigos que empurram, não, não...". "No meu caso, quem pensais que era o mais inteligente do Conclave?", perguntou, divertido. "Você", responderam os miúdos. E ele: "Nem sempre os cardeais elegem o mais inteligente. Talvez o eleito não seja o mais inteligente nem o mais astuto ou o mais disposto a fazer o que é preciso. Mas é o que Deus quer para este momento da Igreja." Depois, "o Papa vai morrer como todos os outros ou retirar-se, como o grande papa Bento, e outro virá, que será diferente, talvez mais inteligente, ou menos, não se sabe".
[1] http://www.jornaldenegocios.pt/weekend/detalh/frei_bento_domingues_o_papa_estava_a_ver_a_igreja_num_tumulo
»» http://nsi-pt.blogspot.pt/
E fez algumas confidências. "Passei por alguns momentos difíceis. Quando tinha 20 anos, estive à beira da morte com uma infecção, e tiveram de me tirar uma parte de um pulmão. Todos temos momentos difíceis na nossa vida. A vida é um dom de Deus, mas também tem momentos maus, que é preciso superar e seguir em frente", lembrou. "Na vida, há dificuldades, sempre. Mas não vos deixeis intimidar, porque as dificuldades superam-se com a fé, com a força e com a coragem."

2- Francisco continua com dificuldades? Muitas e graves[2], e têm-se agravado nos últimos tempos. Já neste mês de Fevereiro, apareceram, colados nos muros de Roma, cartazes com críticas que, em dialecto romanesco, lhe são directamente dirigidas: "Francisco: comissariaste congregações, removeste sacerdotes, decapitaste a Ordem de Malta e os Franciscanos da Imaculada, ignoraste cardeais; onde está a tua misericórdia?" Quem são os seus autores? Evidentemente, alguém a mando de poderosos que se sentem atingidos pelo Papa. Logo a seguir, apareceu um vídeo satírico intitulado That"s Amoris, aludindo, evidentemente, à Exortação Amoris Laetitia (A Alegria do Amor) sobre o amor e a família, na qual se abre a possibilidade da comunhão a católicos recasados; nele, ataca-se Francisco por não ter respondido à carta que quatro cardeais lhe dirigiram, pedindo esclarecimentos precisos quanto à interpretação da Exortação, criticando-o por "insultar todos os católicos e a Cúria romana" durante as suas homilias e chegando a perguntar: "Quando seremos libertados desta cruel tirania?"

[2] http://maislusitania.blogspot.pt/2017/02/quando-correccao-publica-e-urgente-e.html

Lidera a oposição a Francisco o cardeal americano R. Burke, que ousou levantar a questão da condenação de Francisco por heresia. Foi ele que tentou convencer M. Festing, grão-mestre da Ordem de Malta, a desobedecer ao Papa e a não se demitir. Segundo o New York Times, o cardeal ultraconservador e sectores fiéis a Donald Trump na Casa Branca, concretamente o conselheiro Steve Bannon, conspiram contra Francisco, temendo alguns que, com a vitória de Trump, o Papa fique um pouco isolado. Mas o padre jesuíta, A. Spadaro, um dos conselheiros mais próximos, não hesita: "Ele está a avançar, e a avançar muito depressa."

3- E Francisco? Continua a revolução do Evangelho e da ternura e também a denunciar "uma atmosfera mundana e principesca" nas estruturas eclesiásticas - "não é preciso ser cardeal para julgar-se príncipe, basta ser clericais, isto é o pior na organização da Igreja" - e a reconhecer que "no Vaticano há corrupção", mas que ele "vive em paz", clamando que é necessário "destruir esse ambiente nefasto"; "na Igreja, há muitos Pôncios Pilatos que lavam as mãos para estar tranquilos"; quanto às críticas, admite que "a vida está cheia de incompreensões e tensões e, quando são críticas que servem para crescer, aceito-as e respondo". Não quer rupturas e procura consensos. Mas não se assusta: ao jornal L"Avennire disse que "não perdeu o sono", continuando a dormir que nem um penedo, mas foi advertindo "os que não são honestos nas críticas, que agem de má-fé para fomentar divisões". Exigiu a demissão de Festing e nomeou um delegado para organizar "a renovação moral e espiritual da Ordem de Malta", a ponto de o Grande Chanceler da Ordem, A. F. Von Boeselager, ter esclarecido que como Patrono da Ordem Burke "está suspenso de facto".

4- O problema essencial de Francisco são os mediadores, isto é, que bispos e padres se convertam, para que sirvam precisamente de mediadores entre o que Francisco propõe e os fiéis, em ordem a evitar perigos reais de má interpretação, que pode levar à acusação do "agora vale tudo".
Note-se, entretanto, que o cardeal conservador Gerhard Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, marcou distância em relação ao grupo dos quatro. Por outro lado, para os bispos alemães, por exemplo, "a exclusão da comunhão passou à história", vendo a possibilidade de os divorciados que voltaram a casar receberem a comunhão, no quadro de "soluções diferenciadas e apropriadas aos casos individuais"; abre-se a porta a um "novo começo" no sentido da possibilidade da comunhão também para os casais não casados, para os casais de diferentes confissões, e inclusivamente para pessoas homossexuais, sempre no respeito pela consciência e dentro do devido discernimento. Perante as críticas, o Conselho de Cardeais de todo o mundo, o célebre G9, está com Francisco: "em relação a acontecimentos recentes, o Conselho de Cardeais assegura a sua adesão e apoio plenos à pessoa do Papa e ao seu magistério."

5- Há uma pergunta que anda no ar: Poderia Trump reunir--se com Francisco, aquando da cimeira do G7 na Sicília nos dias 26 e 27 de Maio?








 

 

 http://maislusitania.blogspot.pt/2013/12/a-seita-feminista-nsi-elogia-os.html


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